Seis duras verdades que te farão uma pessoa melhor - parte 1

Por David Wong, da DW's End Times Report (cracked.com)

2013, filhos da mãe. Sim! VAMOS FAZER ISTO.

"Fazer o quê?", você pergunta. EU NÃO SEI. VAMOS DESCOBRIR JUNTOS, FILHOS DA MÃE.

Sinta-se à vontade pra parar de ler isto se sua carreira estiver ótima, se estiver empolgado com sua vida e feliz com os seus relacionamentos. Aprecie o resto do dia, amigo, que este artigo não é pra você. Se você faz um bom trabalho, estamos orgulhosos contigo. Então não se sinta como ter dado um clique à toa, veja uma imagem de Lenny Kravitz com um cachecol gigante:

Para o resto, eu quero desafiá-los a uma coisa: Liste cinco coisas impressionantes em você. Escreva-os ou apenas grite-os em seu quarto. Mas tem um porém - você não pode listar nada do que você é (ex., sou um cara legal, sou honesto), em vez disso você deve listar coisas que você faz (ex., Eu ganhei um torneio nacional de xadrez, eu faço a melhor pimenta do Massachussets). Se achou difícil, bem, isto aqui é pra você, e você vai odiar pra caralho lê-los. Minha única defesa é que eu gostaria de que alguém tivesse me dito isto por volta de 1995, mais ou menos.


6. O mundo só se preocupa com o que ele pode aproveitar de você

Digamos que a pessoa que você mais ama tenha levado um tiro. Ele ou ela está estirado na rua, sangrando e gritando. Um cara chega e diz, "Fiquem atrás." Ele olha para o ferimento no seu amado e puxa um canivete - ele vai operá-lo ali mesmo na rua.

Certo, quem é o ferido?

Você pergunta, "Você é médico?"

O cara diz: "Não."

Você diz, "Mas você sabe o que está fazendo, certo? Você é um paramédico de reserva do Exército, ou..."

Nesse ponto o cara se magoa. Ele te diz que é um cara legal, é honesto, que sempre chega na hora. Ele diz que é um ótimo filho para sua mãe e tem uma vida cheia de passatempos construtivos, e se vangloria de nunca usar palavrão.

Confuso, você diz, "O que é que toda essa porra interessa quando (minha mulher/meu marido/melhor amigo/pai, mãe) está no chão, sangrando? Eu preciso de alguém que saiba operar ferimentos de bala! Você pode fazer isso ou nâo?"

Agora o cara fica agitado - por que você é tão superficial e egoísta? Será que você não se importa com nenhuma das outras qualidades dele? Não ouviu ele dizer que sempre se lembra do aniversário da namorada dele? Tomando todas as coisas boas que ele faz, será que é tão importante ele saber fazer cirurgias?

Naquele momento de pânico, você vai pôr suas mãos ensanguentadas no cara e chacoalhá-lo pelos ombros, gritando, "Sim, eu digo que nenhuma dessas porcarias importa, porque nesta situação, eu só quero alguém que consiga parar o sangramento, seu babaca louco de merda!"

"Eu não entendi. Será que ajuda eu pôr um jaleco? Um segundo só, deixa eu..."

E aí está minha verdade terrível sobre o mundo adulto: você está naquela exata situação todo santo dia. Só você é o cara confuso com o canivete. A sociedade toda é a vítima da bala.

Se você quer saber porque a sociedade parece enxotar você, ou por que você parece não ser respeitado, é porque a sociedade está cheia de pessoas que precisam das coisas. Elas precisam de casas prontas, de ter o que comer, diversão, relacionamentos sexuais satisfatórios. Você chegou na cena da emergência, segurando seu canivete, por virtude do seu nascimento - no momento que você veio ao mundo, você se tornou parte de um sistema feito puramente pra ver as necessidades das pessoas.

"Tá aqui a merda que você precisava. Agora se manda."

Ou você encara a tarefa de atender às necessidades das pessoas aprendendo um único conjunto de habilidades, ou o mundo irá rejeitar você, não importa o quão legal, atencioso e polido você seja. Você será pobre, ficará sozinho, você será deixado no vácuo.

Parece isso ruim, insensível, materialista? E quanto ao amor e à gentileza - essas coisas não importam? Claro que sim. Desde que você faça algo para dar às pessoas o que elas não conseguem em lugar nenhum. Veja por si...

5. Os hippies estavam errados

Esta é a melhor cena da história do cinema (AVISO: LINGUAGEM EXTREMAMENTE EXPLÍCITA):

Para quem não consegue ver o vídeo, é o discurso famoso que Alec Baldwin dá em uma peça cinematográfica chamada "Glengarry Glenn Ross" (Sucesso a Qualquer Preço). O personagem de Baldwin - que você supõe ser o vilão - dá um discurso para uma sala cheia de homens e os dilacera, falando que eles serão todos demitidos, a menos que "fechem" as vendas que eles acabavam de iniciar:

"Cara legal? Não dou a mínima. Bom pai? Foda-se! Vá pra casa brincar com seus filhos. Se quiser trabalhar  aqui, feche."

É brutal, rude e no limite da sociopatia, e também é uma expressão honesta e precisa do que o mundo espera de você. A diferença é que, no mundo real, as pessoas consideram isso tão pesado pra falar que elas decidem ser melhor deixar você sozinho com seus erros.

"Calouros, bem-vindos à aula de arte do 3º semestre de Mr. Baldwin -
todos presentes? Bem, vou nessa assim mesmo."

Aquela cena mudou minha vida. Eu programaria meu alarme para tocar isso todo dia se eu soubesse como. Alec Baldwin foi nomeado para um Oscar com aquele filme e aquela é a única cena com ele. Como as pessoas mais espertas já notaram, o trunfo daquele discurso é que metade das pessoas assistindo pensa que o ponto daquela cena é, "Uau, como que deve ser ter um chefe tão idiota?", e a outra metade pensa, "Sim, claro, vamos sair e vender casas maravilhosas por aí!"

Ou, como o blog The Last Psychiatrist colocou:

"Se vocês estivessem naquela sala, alguns de vocês entenderiam aquilo como um trabalho, mas tirando a energia da mensagem de qualquer forma, dar bênção ao chefe  invocando contigo, 'este cara é fantástico!'; enquanto outros entre vocês levariam pelo pessoas, esse cara é um babaca, você não tem direito de falar assim comigo, ou - a manobra padrão de quando o narcisismo é confrontado com um poder maior - de se agitar em silêncio e fantasiar em achar algo que o revelaria um hipócrita. Muito satisfatório."

"Eu juro, que se ele falar da minha careca, eu vou dar um tapão na cara de...
- Sim, senhor, estou ouvindo. Desculpe."

Aquele trecho é de uma crítica interessante de "hipsters" e de por que eles parecem ter tantos problemas em conseguir um emprego (que não começa fazendo justiça, leia o negócio todo), e o ponto é que a diferença nessas duas posturas - ressentida X motivada - determina em grande parte se você será bem sucedido ou não no mundo. Aliás, algumas pessoas vão querer responder àquele discurso com a frase de Tyler Durden de Clube da Luta: "Você não é o seu emprego."

Mas, bem, na verdade você é sim, totalmente. Pode ser que seu "emprego" e seus métodos de empregabilidade não sejam a mesma coisa, mas em ambos os casos você não é nada mais que a soma de todas as suas habilidades úteis. Aliás, ser uma boa mãe é um trabalho que requer habilidade. É algo que uma pessoa pode fazer que seja útil para os outros membros da sociedade. Mas não se engane: seu "trabalho" - a coisa útil que você faz para outras pessoas - é tudo o que você é.

Existe razão para os cirurgiões serem mais respeitados que autores de comédia. Há razão para mecânicos terem mais respeito que hipsters desempregados. Há razão para seu emprego ser a sua identificação quando sua morte acabar numa página de jornal ("Jogador da NFL morre assassinado/se mata"). Tyler disse, "Você não é seu trabalho", mas ele também fundou e administrou uma próspera fábrica de sabonetes e se tornou chefe de um movimento político-social internacional. Ele era o trabalho dele 100%.

Essa é a ironia que muitas pessoas deixam passar ao ver o filme.

Ou então pense deste jeito: Lembre-se de quando Silas Malafaia* disse na TV que "ninguém nascia homossexual". E que apesar dos protestos, ele continuou com milhões de fãs e admiradores por todo o Brasil. Não é porque o país concorde com ele; é que ele faz muito bem seu trabalho de professar a fé. E é isso o que interessa.

A gente não tem que gostar disso tudo. Eu não gosto que chova no meu dia de aniversário. Choverá de qualquer jeito. A nuvens se formam e a precipitação acontece. As pessoas têm necessidades e, assim, dão valor às pessoas que as satisfazem. Estes são mecanismos simples do universo, que não seguem aos nossos caprichos.

"Que porra. Eu não roubo nem mato ninguém, e é assim que me agradecem?"

Se você afirma não ser um capitalista superficial e materialista e discorda de que o dinheiro é tudo, só tenho isto a lhe dizer: "Quem disse alguma coisa sobre dinheiro? Você está confundindo tudo."

4. O que você produz não tem que fazer dinheiro, mas tem que beneficiar pessoas

Vamos dar um exemplo não monetário para que você não se desligue. A sociologia que a Cracked escreve é pesada para rapazes em seus 20 e poucos anos. Assim, eu leio nos nossos comentários e em muitas mensagens dezenas de histórias de rapazes miseráveis e solitários que insistem que as mulheres não chegam perto deles apesar deles serem os caras mais legais do mundo. Eu posso explicar o que há de errado nesta mentalidade, mas provavelmente é melhor eu deixar Alec Baldwin dizer:

Neste caso, Baldwin está no papel das mulheres atraentes da sua vida. Elas não falarão disto de forma tão pesada quanto esta - a sociedade nos treina a não sermos honestos com as pessoas - mas a equação é a mesma: "Cara legal? Quem se liga pra isso? Se quiser trabalhar aqui, feche."

Então, o que você traz à mesa? Porque aquela sósia da Sophie Charlotte da livraria com quem você sonha ficar passa hidratante no rosto por uma hora toda noite e se culpa por comer qualquer coisa além de salada no almoço. Ela será cirurgiã em 10 anos. O que você faz?

"Bem, eu sou puta fera em capturar bandeiras."

"Que? Tá dizendo que eu não posso conquistar garotas como ela, a menos que eu tenha um ótimo emprego e um monte de grana?"

Não, seu cérebro chega naquela conclusão para que você tenha uma desculpa pra descartar todos que te rejeitam como se eles só estavam sendo egoístas e superficiais. Estou perguntando o que você tem a oferecer? Você é inteligente? Engraçado? Interessante? Talentoso? Ambicioso? Criativo? Certo, agora o que você faz pra demonstrar esses atributos para o mundo? Não diga que você é um cara legal - é o mínimo do mínimo. Garotas bonitas tem caras sendo legais com elas 36 vezes por dia. O paciente sangra na rua. Você sabe operá-lo ou não?

"Bem, eu não sou machista nem sexista nem avarento nem superficial nem abusivo! Não como esses porra-loucas por aí!"

Sinto muito, eu sei que é difícil ouvir isto, mas se tudo o que vocês sabem fazer é uma lista de coisas ruins que vocês não fazem, então saiam de perto do paciente, pois tem um cara esperto, bonito e com uma carreira promissora pronto para chegar e operar.

"Ei, eu disse que não ia te bater!"

Isso quebra seu coração? Certo, agora, e daí? Você vai ficar aí emburrado, ou vai aprender a fazer cirurgia? Você decide, mas não reclame por que as garotas se apaixonam por idiotas; elas se apaixonam por aqueles idiotas porque aqueles idiotas têm outras coisas para oferecer a elas. "Mas eu sei ouvir as pessoas!" É? Porque você está mais disposto a ficar sentadinho, quietinho, esperando a chance de ficar perto de uma bonitinha (e passar cada segundo imaginando como a pele dela é macia)? Bem, adivinhe, há um outro cara na vida dela que sabe fazer a mesma coisa, e ainda toca violão. Dizer que é um cara legal é como um restaurante que só serve comida que não te deixa doente. Você é como um filme cujo título é "Este Filme é Brasileiro", e seu subtítulo é "Os atores podem ser vistos perfeitamente".

Acho que é por isso que você pode ser um cara legal e ainda assim se sentir mal consigo mesmo. Especificamente...

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